Caros leitores,
Sei que não desejei as típicas boas festas, mas para que conste, não as dei a ninguém. Afinal, quantas vezes ouviram essa expressão nos últimos dias? Não de devem lembrar... Mas certamente se lembram de quem não a deu. ;)
De qualquer das formas, gostaria de vos desejar um óptimo ano novo, repleto de coisas boas, saúde, trabalho e sorrisos. Pelo menos é o que desejo para mim.
Boas entradas!
Shuri Kata
quinta-feira, dezembro 31, 2009
sábado, dezembro 19, 2009
26º Capitulo - Regresso de Akmer
O tempo conta-se pelo bater dos corações e pelo suspirar dos soldados. A ansiedade enervante em que nos encontramos vai-nos corrompendo o discernimento. A vista torna-se turva, ouvimos o que não existe… e chegamos a julgar que a ideia de nos entregarmos ao inimigo não é assim tão má. “Que raio estou eu a pensar?” Sou sacudido pelo grito de um dos soldados: “Movimentações a Norte!”. Corremos a muralha, tentando compreender o que estava a fazer aquele miserável amontoado de vidro negro. “TEHT!” Gritei. Teht apareceu como se sempre ali estivesse. “Ouvi o grito da torre… que se passa?”. “Diz-nos tu, oh arqueiro!” resmungou Tulfah. Teht inclinou-se na muralha, como que procurando eliminar interferências da luz dos archotes. “Meus senhores, parece-me que se aproxima alguém pela retaguarda do inimigo.”. “Em que números? Temos apoio?” Pergunta ansiosamente Abdul. “Não temos apoio… é Akmer!” exclama Teht. Creio que em ambos os lados destas muralhas, a confusão é total. “Que raio faz este batedor aqui a esta hora da noite? Uma gota de água no deserto… vai ser massacrado.” Mil ideias começam a fluir na minha cabeça. Sinto o amuleto a aquecer… o que quer que tenha de ser feito, tem de ser feito já! “Teht, consegues dar fogo de cobertura?”. “Vai ser difícil, mas posso tentar…” responde Teht olhando-me profundamente “… mas são muitos.”. Não necessitei de lhe dizer mais nada para setas certeiras começarem a voar das nossas muralhas. Um miúdo… provavelmente o melhor arqueiro que havia conhecido! Enquanto isso, Abdul convocara um grupo de arqueiros para o apoio a Teht. “Assim que os vossos arcos permitirem, quero ver vidro a brilhar à luz desta lua.” ordena Abdul. Tulfah descera para preparar a abertura da porta principal, porta de entrada para Akmer. Olho o horizonte. O tempo deixou de se medir… tudo parece acontecer devagar. Consigo ver cada expressão, sentir cada pensamento, ouvir cada berro dado pelos homens que me acompanham. Alá foi generoso ao permitir que os tenha conhecido. Olhando para o campo à minha frente, vejo Akmer galopando ferozmente o seu cavalo… aproveitando cada fresta nas linhas inimigas. A seu lado, pedaços de vidro estoiram contra cada seta de Teht. O arco longo de Teht confere-lhe um alcance invejável, comparado com os arcos curtos do resto dos arqueiros. “Mais uns metros e estará ao alcance… só mais uns metros!” penso em silêncio.
sexta-feira, dezembro 04, 2009
25º Capitulo - Preparativos
A noite vai alta. A Sul, a lua reflecte-se nas águas brandas do rio. Mais adiante, conseguimos ver o mar, o nosso único refúgio. Os nossos batedores voltaram com boas notícias; um grupo de pescadores trouxe embarcações e pelo menos uma parte dos residentes poderão deslizar pelas águas até uma aldeia próxima sem levantar muitas suspeitas. O caminho apresenta-se livre, mas de forma a evacuar eficientemente a cidade, os restantes deverão seguir a pé, junto à margem. Tulfah olha-me com ar de muitas dúvidas. “Acreditas mesmo que vai resultar?” pergunta-me. Também, que outras hipóteses teremos nós, tal língua de terra a preparar-se para ser esmagada por uma tormenta marítima. Nos fundos da muralha, uma pequena grade é retirada… a saída para os esgotos, para o rio e para a nossa liberdade. Um pequeno grupo de soldados vai reunindo as mulheres, crianças e idosos que não abandonaram a cidade nos dias antes ao cerco. Serão eles os transportados pelos barcos. Todos os homens capazes ficarão para trás para cobrir-lhes a retirada. Teht está nas muralhas, não vá algum soldado inimigo aproximar-se demasiado da nossa zona de fuga. Vou acordar Maria. Encontro-a sentada na cama, pensativa, com as adagas no colo. Olha-me como quem vai explodir em justificações, motivos, razões… mas não temos tempo para tal. Ele urge como a areia fina do deserto foge por entre os dedos da mais forte mão. Apesar da sua aparente revolta, concorda em partir nos barcos. Não a poderia deixar ficar num lugar condenado, com tantas coisas que ainda temos que preparar. Não tenho dúvidas que ela conseguirá defender-se no futuro, e por Alá, o futuro dela não é aqui. Despedimo-nos na praça principal, em frente à mesquita. Entre a silenciosa multidão, perco-a de vista. A vida deles está entregue… Parto com Tulfah e Abdul para as muralhas. Os milhares de soldados que havia visto na praça dias antes, afinal não chegam aos mil. Houve desertores, fugas, medo… quando a vida dos que nos estão perto está em risco, o coração faz-nos ver que não é pelo escudo ou pela lâmina da cimitarra que se terá paz. Assim, partiram. Na verdade, apenas nós sabemos disso. Para um qualquer soldado que se encontre no exterior da muralha, contam-nos aos milhares. Em todas as muralhas, foram acesas mais tochas para arqueiros… aqui e ali as lanças emergem acima das ameias… muito mais lanças do que o total de homens que temos, mas a ideia é mesmo essa. Entre a farsa e a ilusão, olhos atentos espreitam sobre as linhas inimigas, tentando compreender qualquer movimentação. Tudo parece correr bem e espero, por todos os meus antepassados, que assim continue. “Teatro do poeta… se nos safarmos desta, será uma boa história para contar aos meus netos.” murmura Abdul. Gracejamos o quanto nos é possível neste tenebroso momento…
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