domingo, janeiro 15, 2006

4º Capítulo - Paz

Regressam os tempos de paz. Alá é grande ao permitir o nosso descanso. Yusuf aceita todas as rendições almorávidas de forma justa, permitindo a sua permanência em Ceuta. Ele vê esta cidade como um ponto crucial e como tal deve ser reconstruída e militarmente fortificada, contando para isso com a colaboração dos seus antigos residentes. Ao longo de meses, mestres-de-obras chegam a esta cidade carregados de matérias-primas, na esperança de que com a permissão de Yusuf, possam aqui ganhar algum dinheiro. Através das rotas com o Oriente o comércio floresce. Caravanas chegam diariamente fornecendo a cidade com bens essenciais como mel, vinho, tecidos e cereais. No porto, agora aumentado, ergue-se uma estátua de Amir em homenagem à sua gloriosa vitória sobre a frota almorávida. Não se vê miséria... os fracos são amparados pelos fortes. A mesquita é reconstruída usando o mais branco mármore e artistas esforçam-se por concluir os murais de azulejos. As habitações são reparadas e as ruas arranjadas. A muralha, esmagada pela ofensiva de Yusuf é aumentada, permitindo assim mais espaço para o crescimento da cidade. Terras são roubadas ao deserto de forma a desenvolver a agricultura. Jamais Ceuta viu tamanho movimento e variedade de raças e culturas. Do norte de Africa, carregamentos de cacau, marfim, ouro e diamantes enchem os olhos de quem aqui vive, embelezando e enriquecendo esta nobre cidade. Os jardins são imensos, verdejantes e cheios de vida. Do mar, os pescadores trazem infindáveis espécies de peixes. É, deveras uma bela cidade... brilhante, demonstrando todo o seu esplendor. No centro, logo ao lado da reconstruída mesquita, encontra-se o palácio do governador. Nele, Yusuf passa os seus dias, tanto administrando a cidade como entregando-se às artes. A riqueza da cidade atrai poetas, pintores, escultores e outros artistas em busca de algum dinheiro por aquilo que melhor sabem fazer. Vivem-se tempos doces, em que a memória dos tempos almorávidas cai em esquecimento, ofuscada pela opulência deste jovem império.
Aproximam-se novos confrontos... disso tenho a certeza. A ambição de Yusuf não permitirá que nos mantenhamos aqui por muito mais tempo. Resta-nos aproveitar as boas graças de Alá.

sábado, janeiro 07, 2006

3º Capítulo - Queda de Ceuta

Já se passou um mês desde o início do cerco a Ceuta. O constante bombardeamento da cidade reduz a vontade de lutar de quem ainda tem força para segurar uma espada. Têm sido dias duros para muita gente dentro daqueles grandes muros de pedra. O bloqueio do porto por parte da frota de Amir, comandante da armada almóada faz com que os mantimentos escasseiem. Qualquer tentativa de abandono da cidade é punida com morte, enquanto o governador não a entregar. As tropas de Yusuf começam a ficar irrequietas. Homens talhados pelo sangue e pela guerra não se contentam com a paz. O próprio Yusuf parece preocupado... uma grande força almorávida foi vista a sair de Granada em direcção a Ceuta. A cidade deve ser tomada antes da chegada de reforços. Será uma catástrofe caso tal não aconteça. A brisa da tarde trás o aroma do mar, uma leve maresia misturada com um pérfido cheiro a queimado. Salem e Al-Amiri falam com as tropas. Os aríetes estão prontos há dias, as catapultas têm as cordas bem secas e os trebuchets já massacram a cidade desde o primeiro dia de cerco. É hora! Al-Amiri monta o seu cavalo e parte. Salem reúne os seus homens e distribui as tarefas para a ofensiva. Escadas e grandes protecções em verga para os homens da frente, atrás os aríetes apoiados por arqueiros e por fim as catapultas. Yusuf monta o seu cavalo, passa uma breve revista ás suas tropas e dirige-se para a retaguarda. É de lá que comandará todas as operações. O tempo passa sem as tropas se mexerem um metro que seja. A ansiedade percorre as fileiras enquanto a ordem não for dada. Um cavalo branco percorre as dunas à direita de Yusuf... é Al-Amiri com boas novas: Amir começou o ataque ao porto. Como uma onda num mar tempestuoso, a notícia espalha-se... não é necessária qualquer ordem. Até o mais inexperiente sargento das fileiras almoadas sabe o que fazer. As catapultas lançam as suas cargas contra as muralhas desfazendo tudo e todos. Salem, protegido pelas protecções leves mas resistentes de verga, empenha-se por chegar junto das muralhas. Ao seu lado, toda a linha da frente avança, mas não sem haver perdas. Os aríetes carregam desenfreadamente em direcção à porta. Engenheiros apressam-se a elevar as escadas contra as muralhas, escadas essas que permitirão a sua subida do exército de Yusuf. Setas voam em todas as direcções apanhando os mais desprevenidos. Os aríetes estão à porta... óleo é atirado das torres queimando os homens que os manobram. A luta é frenética e sangrenta. Yusuf e a sua cavalaria aguardam enquanto na muralha os seus homens lutam pelas melhores posições de combate. A porta cede e Yusuf sorri. Ao lado de Al-Amiri, carregam sobre os defensores, entrando pela cidade. O porto já caiu após grande esforço de Amir. Ceuta cairá ainda hoje. Alá abençoou este glorioso dia.