sábado, dezembro 27, 2008

24º Capitulo - Tempos de Guerra

O chamamento para o combate ressoa pela cidade. De uma das torres, um vigia assinala o que parece o inicio do fim, o purgar da terra, o castigo dos penitentes por parte de criaturas estranhas e alimentadas a sofrimento e angústia. As tropas nas muralhas redobram, mas ao invés de prontidão, apresentam espanto e temor. “Aqui em cima”, grita Abdul, fazendo-me virar a cabeça para a muralha que se encontrava à minha esquerda. Escalo as escadarias o mais rápido possível. À minha frente começam-se as desfraldar os terrenos circundantes ao castelo. Primeiro as copas nos pomares de laranjeiras… os seus troncos… depois os primeiros contornos dos montes… e finalmente o brilho de centenas de objectos, centenas de criaturas de vidro negro. De diferentes formas e alturas, ocupando linhas diferentes como se de diferentes classes se tratassem. Uma mancha negra que cerca toda a muralha Norte e Este do castelo não fosse alguns espaços entre aquela grandiosa formação. Da muralha Sul, ouvem-se os primeiros gritos dos vigias. Também pelo Sul estamos cercados pelo que aparenta. Teht aparece na muralha. “Que tal o panorama deste lado?” pergunta. “A Este, eles apresentam uma disposição idêntica. Há algumas linhas laças que pudemos furar, mas tirando isso, é uma mancha escura.” Ambos assentimos e perdemo-nos por mais uns minutos a perscrutar o horizonte. Voltamos à sala do governador. Temos informações sobre a disposição das tropas inimigas, e eventualmente das classes que trouxeram para o combate. Debate-se intensamente a melhor forma de defesa. Pela disposição, as tropas mantiveram-se em movimento durante a noite. Cortaram-nos linhas de abastecimento e não devemos esperar notícias a não ser pelo rio. Pelo menos esperamos não ter perdido essa área também. De acordo com o governador, podemos recorrer a esta dádiva para aceder a uma aldeia piscatória junto ao mar. O ultimo recurso talvez. Decidimos enviar uma equipa de batedores para saber se é realmente viável... se pudemos enviar todos os não combatentes por lá para que possam escapar de barco. No mar não os apanharão certamente. Sente-se no ar o nervosismo, os demónios Phobos e Demos que os gregos tanto temiam, assolam as almas dos que se encontram nesta sala. Os pesadelos de muitos tornam-se agora realidade. É tarde... O céu envolve-se de amarelos e laranjas enquanto o sol se prepara para deitar no mar. A luz que entra pela janela a Oeste aquece-nos e dá-nos alguma esperança. Falamos sobre a possivel chegada de Yusuf no nosso auxilio. Seria mais do que bem vinda. A sua presença no campo de batalha instiga temor a quem o enfrenta. E em tempos de cerco, apanhariam o inimigo pela retaguarda, o que desbarataria as tropas muito mais facilmente. Espéculações... ou realidade se Alá permitir. Deixo os estrategas a preparar as coisas e vou para o exterior. Subo às muralhas e junto-me ás centenas de olhos que prescutam o horizonte. As tropas inimigas refletem os tons do céu. Estão imóveis, esperam a distância segura. Esperam certamente pela noite para atacar... a NOITE! Como os vamos ver de noite? Algumas ideias ocorrem-me e desço rapidamente de volta a casa do governador. Chego ofegante a uma sala cheia de vultos de homens, não homens na sua verdadeira essencia. Estão esbatidos em pensamentos e restias de um raio de luz que alumie a tenebrosa escuridão da batalha. "A noite! Eles vão usar a noite, mas certamente não esperam que nós também a usemos!" grito enquanto procuro ar para respirar. Os seus olhos cansados recaem sobre mim. "Que ideias malucas tens tu em mente, ó poeta?" pergunta Abdul. Começo a expor as minhas divagações... Que Alá as torne realidade.

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Merry Xmas

É Natal... É Natal...
Ecoa vibrantemente por toda a parte.

Seja alegria,
Eterna felicidade,
Brindemos juntos amigos...
Estranha melancolia,
Imensa saudade,
Loucura em tempos idos...

É Natal... É Natal...
Vibrantemente ecoa com toda a arte.

segunda-feira, dezembro 01, 2008

23º Capitulo - No outro lado

Onde estou? Que local negro é este? O que me aconteceu afinal? Que desígnios terá Alá reservado para mim nesta penumbra? Lembro-me daquela pedra negra; daqueles rostos a gritar por ajuda; de um calor intenso que me consumia o peito... e de um frio de morte que me tocava o corpo! Estarei morto? Não acredito que a criatividade de Alá se tenha ficado por algo tão... triste, negro, sombrio. Olho em volta. Pelo que a minha vista alcança, apenas pequenos tons de arroxeado sobressaem da penumbra, pequenos contornos que se destacam, rectos, talhados. Parece que estou dentro do cristal para o qual estava a olhar. Será possível? E, se sim, onde estão aqueles tenebrosos rostos que o preenchiam? Um toque no ombro faz-me saltar de susto. Viro-me rapidamente e busco em vão a cimitarra no meu cinto. "Não creio que necessites dessa "arma" aqui." Disse, rindo, algo que não me pareceu mais que uma névoa. "Não há lamina que corte o vento... ou estaremos errados?" Indefeso, assenti. Mais não posso fazer num local que não me é de todo familiar, com visão reduzida e sem arma. Decido começar com perguntas inocentes... "Que quereis? Onde me encontro? O que sois vós?" Um novo toque no ombro faz-me entrar em sobressalto. Viro-me e uma nova voz sai da névoa que neste momento circula em torno de mim. "Somos tempo... Passado, presente e futuro... tudo e nada. Estás perdido numa pequena brecha que a tua curiosidade abriu jovem aventureiro. Não creio ter visto alguém tão jovem por estas bandas faz já algum tempo. Que ordem servis?" A custo, respondi. "Sou escritor e vim registar os feitos de Yusuf. Não sirvo uma ordem, apenas a vontade de Alá." Tudo em volta se agita... aparentemente a minha resposta não é bem aquela que estes estranhos espectros esperavam. Uma pequena frase ecoou naquele misterioso espaço: "Não está forjado... não tem sangue!" Sinto o peito a aquecer em proporções abismais. O amuleto queima-me a pele, tolda-me a mente, fere-me o raciocínio. Os segredos tornam-se frases, as frases tornam-se gritos, os gritos tornam-se insuportáveis minutos de pura agonia e sofrimento. Cerro os olhos na esperança de conter todas as minhas dores o melhor que posso, na expectativa que tudo passe depressa. "Não devia ser ele... ele devia ter sangue nas mãos..." reflecte nas paredes cristalinas que me rodeiam. Todos os momentos se tornam dor, respirar é um martírio, sentir é um sofrimento. Não aguento mais e sinto-me desfalecer. Ao fundo consigo ouvir o meu nome, nada mais. Apenas o meu nome... talvez um pouco mais perto agora. E agora ainda mais, como se me chamassem mesmo aqui, bem perto. Acordo com os guardas a abanarem-me e a chamarem por mim. "Está bem?" Assinto com a cabeça, um pouco perdido com tudo o que se passara. "Senhor... eles estão aqui... estamos a preparar a defesa da cidade." Tudo passara depressa demais. Apenas mais um paradigma na minha estada nesta cidade. Terei de me juntar ao resto dos meus colegas para ganhar com dor ou morrer com honra. Ao sair do quarto olho para um canto do chão. Ali jaz o cristal, sem vida, seco e escurecido. Uma pequena racha preenche o local onde eu tinha visto todos aqueles espectros... os mesmos com que creio ter falado. Alá criará discernimento para as provações que se avizinham.