terça-feira, novembro 25, 2008

22º Capitulo - Estranha pedra negra

Maria dorme profundamente após toda aquela agitação a que foi exposta. Levanto-a do cadeirão e levo-a para a pequena cama que ocupa a parede sul do quarto. Deito-a e recosto-a confortavelmente para que possa descansar em paz. Decido depositar as duas belas adagas por debaixo da sua almofada, já que não serão necessárias as palavras para me dizer o que a sua pequena boca não conseguiu proferir. Já sei que esta pequena criatura carrega nos ombros um peso muito maior do que o seu. Tem o fardo do destino para transportar... assim como eu e todos os que neste momento se encontram nesta maldita cidade. Quando abandono o seu quarto, dou de caras com dois guardas que, com toda a azafama que se passava na sala, decidiram verificar se todas as divisões da casa se encontravam sem problemas. Peço-lhes que guardem o quarto com a sua própria vida, caso seja necessário, e que deixem a Maria descansar. Os olhos de ambos estavam absorvidos pelos restos de vidro negro que estava espalhado pelo chão do quarto. Ao tentar explicar o que se havia sucedido, também os meus se prenderam com algo que se realça entre aquela amalgama de cristal: há algo mais ali... algo talhado, não partido. Aproximo-me com cautela e observo com maior atenção. É negro, reluzente como todos os restos, mas aparenta ter algo no seu interior, talvez fumo, tal bruma que nele se encontra encerrado. Decido apanha-lo. O que quer que seja, merece uma observação mais cuidada. Levanto-o contra a luz para que o meu olhar possa atravessar o seu interior. Os jovens soldados prendem-se atrás de mim tentando também ter um vislumbre daquela pedra. Sinto os meus pelos eriçarem-se como se todo eu gelasse. No peito, sinto um ardor intenso... o amuleto queima-me como nunca me havia queimado. Quando a luz exterior consegue atravessar aquela escura pedra, vejo caras... dezenas de caras na maior das agonias, como que gritando, como que pedindo ajuda. Esfumam-se e tornam a materializar-se, sempre com o mesmo ar de dor, rogando por liberdade. Sinto-me tremer. Mas afinal o que é isto? Porque trará este "Batedor" algo tão negro consigo? Será esta a alma dele, ou apenas a chama que o mantinha focado nos seus objectivos? Ouço os guardas chamar-me bem ao fundo enquanto ainda perscruto aquele objecto; depois um choque no peito e sinto-me leve... a cair. Com as forças que me restam, olho o cristal agora vazio e o peito inflamado em dor. Alá me acuda pois de nada mais me lembro.

1 comentário:

Anónimo disse...

Admirável imaginação.. Bom trabalho,continua:)