O regresso à cidade é acompanhado pelo desaconchego de uma mente repleta de duvidas. Era claro que aquela criatura não poderia ser de origem natural. Simplesmente não existe animal algum que se assemelhe a ela. E o amuleto que trago no peito não pára de emanar calor, um calor desconfortante e agora misticamente estranho. Decido levar Teht à presença do resto do grupo. Os olhares de desconfiança não tardam em aparecer, mas a forma como Teht se apresenta não deixa margem para duvidas da sua boa vontade. Foi enviado para Cadiz para a protecção da cidade, alguns dias depois da queda da fortaleza de Gibraltar, mas aparentemente nem muitos milhares como ele a protegeriam. "Atacaram como relâmpagos... e apareciam de todos os lados. Foi impossivel!... gigantes carregados de arqueiros... os Caminhantes!" . Em toda a sua narrativa, nada havia criado temor nos corações dos meus companheiros, mas bastou Teht pronunciar a palavra "Caminhantes!" para a calma e o discernimento serem rápidamente perdidos na ampla sala. "Tais criaturas não existem!..." resmunga Tulfah... "Os tempos antigos acabaram com a queda do Génio Negro... já não existe magia como nos tempos dos nossos antepassados!... simplesmente não existe!". Os caminhantes eram algumas das criaturas mais temidas pelos rebeldes, na altura das grandes batalhas dos desertos. Gigantes bestas feitas de matéria negra, tão negro era o seu coração, capazes de transportar tropas a longas distâncias em pouco mais de um dia. Segundo se conta, podiam trazer todo um exército nas suas costas, esmagando qualquer cidade rebelde como os nossos pés calcam um qualquer pequeno e indefeso animal. Gera-se a confusão na sala... O governador deita as mãos à cabeça pronunciando uma amalgama de palavras incoerentes. Vejo a dúvida e o medo crescer rápidamente. Teht pousa a mão no meu ombro fazendo-me voltar à realidade. "Tenho de te falar de uma coisa..." sussurra ele baixo. Afastamo-nos do inacalmável grupo e Teht começa a falar. Foi enviado por Granada com a missão de ajudar na defesa de Cadiz. Furtivamente, atravessou os campos de batalha a norte de Gibraltar , acabando por chegar a Cadiz sem levantar demasiadas suspeitas. Aparentemente, o seu grupo acabou dizimado sobre o fogo intenso dos arqueiros que se encontravam nos Caminhantes, aquando da invasão de Cadiz. "Não consegui salvar ninguém... estávamos cercados e as flechas vinham de todo o lado. Foi uma sorte escapar... mas ainda não percebi como não me conseguiram acertar... Foi a graça de Alá, creio!". Lançamos uma gargalhada que provoca o silêncio no salão. Abdul olha-nos com afronta: "Nós preocupados com a cidade e as excelências a rir como doidos! É o que faz a guerra... uns morrem e outros ficam assim!" . Inocentemente, Abdul dá origem a uma gargalhada geral, um tanto ou quanto nervosa. Quem consegue compreender os designios de Alá?
terça-feira, abril 10, 2007
17º Capitulo - Os Caminhantes
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