quinta-feira, novembro 15, 2007

Mudança de mãos...

Boas pessoal... queria apenas informar que acabei de adquirir este blog a mim mesmo. Tenho de dinamizar isto porque me parece que o jovem nis_latromi andava um bocadinho em baixo de forma.

A narrativa vai continuar, porém pontilhada com um pouco de outras coisas... isto de direccionar o conteúdo dos blogs não dá com nada.

Saudações aos resistentes

Shurikata

domingo, outubro 14, 2007

19º Capitulo - Chegada

O som emanado pela estranha criatura assombra a mente de todos os presentes na sala... grunhidos repetitivos que nos alertam para algo... mas para o quê? Teht entra na sala de sobressalto. Eufórico, nem se apercebe da criatura que se encontra na sala, tão embrenhado estava no seu amuleto. "Vejam, vejam!!!" exclamava enquanto o rodava. Depois de tantas horas de volta de uma criatura que emitia sons vindos de um outro mundo, procurámos algum consolo naquela pequena pedra que Teht carregava com ele. "Por Alá!" gritou Abdul quando arcaicamente conseguiu ler o que a pedra dizia. Confuso, aponto a minha cimitarra ao pescoço de Teht. Vejo o seu sangue gelar através dos seus olhos. Ver-se rodeado de estranhos a olharem com ar de poucos amigos, deixou-o imóvel. Cede-me o seu amuleto e posso constatar que as palavras aparecem e desaparecem como as areias do deserto em tempos de tempestade. Mas o estranho é que, no pescoço de Teht, formavam-se frases e não simplesmente palavras soltas... Entre ruídos da criatura e tentativas de leitura de uma pedra redonda e agora intensamente iluminada, todos começam a discutir, tamanha tempestade de areia se abatia sobre as suas mentes, ofuscando qualquer noção de lógica. Teht estava branco! Só agora vira o que se encontrava no centro da sala. "Como podem ter esta criatura aqui? Matem-na rápido! Ela vai contar tudo." diz descontroladamente. Tulfah enlouquece... parece que leu algo no amuleto que não gostou muito... e agarra Teht elevando-o no ar como se de uma pena se tratasse. "Quem é que chegou hoje pá? Quem?!" grita com o rapaz. Vejo a paralisia possuir o corpo de Teht. Mesmo que tentasse exprimir o mínimo ruído, o seu corpo recusar-se-ia a fazê-lo... é uma questão de pânico. Abdul interveio no momento certo. Tulfah solta Teht com um forte abanão... "Tás com sorte meu miserável!". Teht aproxima-se com receio... "Recebi-o à pouco tempo, nem sabia que apareciam frases nele." diz-me em segredo. Ficamos os dois a olhar para o dito amuleto. Ao contrário de Tulfah, eu sei perfeitamente o que o rapaz está a passar... ontem, eu ouvi as vozes que estão escritas naquele amuleto. Já cá estão! Mas quem?

quinta-feira, julho 12, 2007

18º Capitulo - Sem respostas

Voltamos a planear a hipotética defesa da cidade, apesar de em parte todos sabermos que é quase impossível resistir a um ataque tão devastador quanto aqueles que eram descritos nas lendas... Trata-se de dar a vida na esperança de impedir o avanço de um inimigo, sobre o qual não sabemos o que esperar. Após muita discussão, fazemos uma pausa no caos para descansar um pouco... saindo para a rua para sentir a refrescante brisa do final da tarde. Tudo parece tão calmo... mas eu sei tão bem tudo o que corre na cabeça das pessoas que passam! Sinto o medo e uma certa impassividade por parte de cada elemento desta cidade. Até as crianças estão sossegadas demais. Após uma breve pausa, voltamos para dentro para continuar a falar da defesa. Horas passam sem que se tirem conclusões concretas. Como se o cair da noite nos turvasse a mente ao mesmo tempo que o céu. Decidimos comer alguma coisa e ir para a cama. Talvez uma noite de sono nos meta a cabeça no devido lugar e, quem sabe, traga um pouco de discernimento a este tão desanimante assunto. Decido passar pelo quarto de Maria para me certificar de que estava bem... sei que estive ausente tempo demais no dia de hoje, e creio que lhe devo uma explicação. Como a noite, apresenta-se tranquila e relaxada, suavemente embalada pelo fresco que entra pela janela. Como dorme bem, tão pequena princesa! Decido deixa-la repousar... amanha falarei com ela. Deito-me ansioso! Acordo com um calafrio. Desloco-me à varanda e apercebo-me que ainda estava bastante escuro e as estrelas pouco se tinham deslocado. Olho o horizonte na esperança de encontrar a solução para os problemas que se avizinham. Coloco a mão no peito e sinto o amuleto quente... retiro-o e analiso-o calmamente. Cintila emanando uma ténue luz azul, tal estrela celestial. Dou uma mirada nas muralhas e nas ruas que se cruzam na praça. Nada vejo para além de uma ou outra luz balançante, de uma qualquer vela ou candeeiro de óleo aceso. Perscruto a minha mente em busca de alguma frase estranha como a do dia anterior. Está tudo estranhamente calmo! Volto para a cama na esperança de conseguir dormir. Quando volto a acordar, não é por iniciativa própria! Um guarda abana-me fortemente para me dar noticia da captura de um batedor inimigo. Levanto-me com um salto e visto-me à pressa. Escoltado, desço as escadas para me deparar com uma criatura cristalina e um tanto ou quanto assustadora. Fortemente amarrada, emite sons estranhos e imperceptíveis. Olhamos uns para os outros na esperança de encontrar algumas respostas... o vazio resume esta ultima noite. Sentamos-nos a observar aquela cintilante criatura. Afinal, de onde surgiram estes estranhos guerreiros?

terça-feira, abril 10, 2007

17º Capitulo - Os Caminhantes

O regresso à cidade é acompanhado pelo desaconchego de uma mente repleta de duvidas. Era claro que aquela criatura não poderia ser de origem natural. Simplesmente não existe animal algum que se assemelhe a ela. E o amuleto que trago no peito não pára de emanar calor, um calor desconfortante e agora misticamente estranho. Decido levar Teht à presença do resto do grupo. Os olhares de desconfiança não tardam em aparecer, mas a forma como Teht se apresenta não deixa margem para duvidas da sua boa vontade. Foi enviado para Cadiz para a protecção da cidade, alguns dias depois da queda da fortaleza de Gibraltar, mas aparentemente nem muitos milhares como ele a protegeriam. "Atacaram como relâmpagos... e apareciam de todos os lados. Foi impossivel!... gigantes carregados de arqueiros... os Caminhantes!" . Em toda a sua narrativa, nada havia criado temor nos corações dos meus companheiros, mas bastou Teht pronunciar a palavra "Caminhantes!" para a calma e o discernimento serem rápidamente perdidos na ampla sala. "Tais criaturas não existem!..." resmunga Tulfah... "Os tempos antigos acabaram com a queda do Génio Negro... já não existe magia como nos tempos dos nossos antepassados!... simplesmente não existe!". Os caminhantes eram algumas das criaturas mais temidas pelos rebeldes, na altura das grandes batalhas dos desertos. Gigantes bestas feitas de matéria negra, tão negro era o seu coração, capazes de transportar tropas a longas distâncias em pouco mais de um dia. Segundo se conta, podiam trazer todo um exército nas suas costas, esmagando qualquer cidade rebelde como os nossos pés calcam um qualquer pequeno e indefeso animal. Gera-se a confusão na sala... O governador deita as mãos à cabeça pronunciando uma amalgama de palavras incoerentes. Vejo a dúvida e o medo crescer rápidamente. Teht pousa a mão no meu ombro fazendo-me voltar à realidade. "Tenho de te falar de uma coisa..." sussurra ele baixo. Afastamo-nos do inacalmável grupo e Teht começa a falar. Foi enviado por Granada com a missão de ajudar na defesa de Cadiz. Furtivamente, atravessou os campos de batalha a norte de Gibraltar , acabando por chegar a Cadiz sem levantar demasiadas suspeitas. Aparentemente, o seu grupo acabou dizimado sobre o fogo intenso dos arqueiros que se encontravam nos Caminhantes, aquando da invasão de Cadiz. "Não consegui salvar ninguém... estávamos cercados e as flechas vinham de todo o lado. Foi uma sorte escapar... mas ainda não percebi como não me conseguiram acertar... Foi a graça de Alá, creio!". Lançamos uma gargalhada que provoca o silêncio no salão. Abdul olha-nos com afronta: "Nós preocupados com a cidade e as excelências a rir como doidos! É o que faz a guerra... uns morrem e outros ficam assim!" . Inocentemente, Abdul dá origem a uma gargalhada geral, um tanto ou quanto nervosa. Quem consegue compreender os designios de Alá?

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

16º Capitulo - Batedor

O tempo passa devagar… demasiado devagar para quem espera! Mas a espera dá os seus frutos e transforma a mais densa névoa num pequeno véu que se torna simples de atravessar. O encadear da luz na minha vista faz-me vislumbrar algo mais no horizonte que os leves contornos dos montes cobertos de laranjeiras aqui e ali rasgados por ténues caminhos. Curioso, corro para as muralhas. Maria deixa-se ficar para trás, docemente embriagada com o caloroso abraço do sol. Já no alto, volto a percorrer o horizonte. Algo brilha no meio dos pomares… pequeno, talvez do tamanho de um homem… “Mas que raio será aquilo?” penso eu enquanto acompanho os seus movimentos por entre as árvores. Deixo a muralha com um nó de curiosidade no estômago e um escaldante latejar no peito. Sinto o amuleto quente, mas não aquecido pelo alto sol. Parece ter calor próprio… e foi aquela coisa brilhante no horizonte que o despoletou. Na cidade, todos se encontram ocupados e talvez distraídos demais para se preocuparem com aquela coisa estranha no alto do monte. Decido investigar. Perto da casa do governador falo com Abdul sobre as minhas ideias. Sedento de um pouco de ar fresco, decide vir comigo… “Mais não seja, comemos umas laranjas para adoçar a boca!” exclama com tom de gozo. Partimos a cavalo. A distância não é muita, mas uma saída a pé não seria uma atitude prudente em tempo de guerra. Cavalgamos rapidamente pelo meio dos pomares, evitando um contacto directo com o objecto brilhante. Já perto, desmontamos e prosseguimos com as cimitarras desembainhadas. Estranhos ruídos soam por entre as árvores… e o que aparentava ser apenas um objecto, é na realidade uma criatura estranha, feita de cristal negro. “Um batedor!” penso no mais profundo silêncio. Puxo a túnica de Abdul. “É um deles!”, sussurro. Recuamos para um pequeno declive e ficamos estáticos a tentar compreender o que realmente tínhamos visto. Ouvimos passos rápidos… o ardor que me queima o peito leva-me a levantar a cabeça. Vejo a criatura correr monte abaixo… “Ouviu-nos!”. Antes de conseguir proferir uma palavra que seja para alertar Abdul, oiço um leve assobiar rasgar o ar, seguido do claro som de cristal a partir. “A esta distância até num pardal acertava!”. Estamos em pleno alerta quando um jovem se deixa cair de uma laranjeira próxima. “Este não conta nada a ninguém.” ri-se enquanto guarda o seu arco curto. Teht é o seu nome, e é um dos poucos sobreviventes do ataque a Cadiz. Há dias que caminha para alertar o governador de Huelva, mas tem encontrado demasiadas criaturas para que a viagem seja breve. “Venham ver!”, exclama Teht. Puro cristal, nem carne, nem osso! “E há muitos mais por detrás daquele montes.” De quando em quando, pequenos pontos brilhantes refulgem pelas serras. Oiço Abdul engolir em seco enquanto agarra alguns restos da brilhante criatura. Mas que mais nos reserva Alá?