Todos se apresentam assombrados com o número de eventos que Alá tem reservado para nós, simples homens. Decidi sair da casa do governador, e apanhar um pouco de ar para aclarar as ideias. No fundo, a ideia de que aquelas cristalinas criaturas podem atacar a qualquer momento deixa-me irrequieto. Já na rua, sinto ondas de calor fluir pelo meu corpo, como se no meu inconsciente soubesse que algo de muito mau está a caminho. Respiro fundo e tento acalmar-me. Abdul também não se encontra muito descontraído. Vejo-o a desenhar algo sobre algumas folhas de pergaminho... muralhas, tropas... Creio que a sua presença no exterior seja reflexo da mesma ansiedade que me assola. O pequeno exército, que deverá proteger esta cidade, está cautelosamente colocado nas suas altas e sujas muralhas, aguardando. Sinto que, de certo modo, grande parte dos jovens que se encontram lá no alto, desejam que a paz e o conforto regresse à sua terra... mas temo que ainda irão passar por duras provações antes dos seus sonhos se concretizarem. Sinto o sol bater-me na cara como uma bênção... um pequeno sinal de que Alá está connosco. Rasteio as muralhas à procura de algo que evidencie problemas, mas os problemas encontram-se mais perto do que previra. Tulfah grita a plenos pulmões com Teht. “Onde é que ele foi?! Procura-o na tua pedra! Ou isso só permite que fales com eles, meu miserável?!” A confusão estava gerada no interior da casa do governador. Abdul e eu entreolhamo-nos e decidimos acudir àquela gritaria. Quando entramos, qual é o nosso espanto ao ver que a criatura, que teoricamente estava tão bem amarrada, simplesmente desapareceu. Do outro lado da sala, Tulfah e Teht empurravam-se violentamente, enquanto o governador tentava desesperadamente separar os dois sem ser agredido. Não creio que seja possível alguém, ou criatura alguma, escapar a tamanha prisão. “E ninguém viu como a criatura desapareceu?” pergunto inocentemente. A briga cessa, mas as acusações começaram de imediato. “Foi este miserável... tenho a certeza. Eles falam com ele através daquela pedra. Nunca se deve confiar num almoada!” grita Tulfah. Teht está claramente furioso... ouço-o pronunciar palavras iradas enquanto se afasta. Mais uma astuta jogada do inimigo. Como se atrevem a brincar com a nossa mente...
sábado, janeiro 26, 2008
20º Capitulo - Antigas inimizades
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