sexta-feira, maio 26, 2006
9º Capítulo - Caminho para Huelva
A noite aparenta ser longa e o caminho nada fácil. Como o vento, corremos velozmente por entre belos pomares e searas. Os vultos das amendoeiras acompanham-nos durante grande parte do caminho. Dada a urgência da missão, apenas podemos fazer pequenas pausas pelo caminho. Teremos tempo de descansar já em território inimigo. Do grupo, apenas um dos cavaleiros vai a meu lado, tentando manter conversa. É baixo e robusto; “Pequeno touro” é como lhe costumam chamar. Almorávida de nascimento, mas almóada de espírito, agradece-me várias vezes pelo facto de ajuda ter chegado. Segundo os seus relatos, a Península encontra-se decadente faz já uns anos. O grande reino do Grab-Al-Andaluz terminara ainda ele era criança. Com a queda do Xeque, a separação do reino em califados foi imediata. Os califas, sedentos de poder, nem o próprio sangue pouparam. “Árabes contra árabes”, conclui triste. De facto, é exactamente esse problema que assola o Al-Andaluz e que nós tentaremos explorar. O ódio entre califados aumenta de dia para dia, tanto enfraquecendo almorávidas como favorecendo cristãos. Deixando a conversa, procuro no horizonte um sinal do caminho que devemos seguir. Um reflexo amplo, mas ténue vai sobressaindo ao longe. Começamos a descansar os cavalos que já muito cavalgaram desde que partimos de Faro. A noite continua escura, mas bem estrelada. Fomos detidos pelo Guadiana; grande rio, pelo que aparenta. A única forma de o atravessar é numa barca de um veterano de guerra. Ex-combatente na grande frente leva agora uma vida pacata nas margens deste rio. Creio que não causará grandes problemas e em troca de umas moedas de ouro, estou certo que o seu silêncio e o meio de transporte serão comprados. Enquanto atravessamos calmamente o rio, vamos combinando locais para repousar. Huelva, uma cidade a pouco mais de umas horas de corcel, será o nosso primeiro local de paragem. Teremos de nos fazer passar por almorávidas, o que no fundo não é tarefa assim tão árdua. De Huelva partiremos para Cadiz, um pouco mais a sul. E com sorte, conseguiremos atingir Gibraltar ainda antes do final do segundo dia de viagem. Os pobres animais que nos carregam terão de ser trocados em ambas as cidades, de forma a não termos de fazer paragens extra. Em pouco tempo, o agradável e relaxante som da água a correr alegremente pela barca dá lugar ao rude som da areia que roça o casco. A partir daqui, apenas Alá nos poderá proteger.
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